Nos últimos anos, o estoicismo virou moda. Está nos livros de autoajuda, nos podcasts de desenvolvimento pessoal, nas frases de efeito das redes sociais. “Foque no que você pode controlar.” “Aceite o que não pode mudar.” E, claro, a promessa sedutora: “Seja inabalável.”
Mas há um problema aqui — e não é pequeno.
O estoicismo nasceu em outro mundo. Um mundo onde as pessoas acreditavam que o universo era regido por uma ordem cósmica, racional, justa, quase divina. Um mundo onde a liberdade política estava em colapso e a única saída era se proteger internamente, aceitar o inevitável e se distanciar das paixões.
Trazer isso, sem contexto, para uma sociedade caótica, acelerada, desigual e hiperexploradora, é não só um erro filosófico — é também um ato de alienação.
Transformaram o estoicismo em uma espécie de manual de produtividade emocional. Uma desculpa elegante para te dizer:
“Aguente calado. Se dói, o problema é você que não controla sua mente.”
Não. O problema não é só você. O problema é um mundo que adoece corpos, mentes e relações. É um sistema que sobrecarrega, isola, precariza e depois te entrega uma filosofia antiga embrulhada como solução mágica.
O estoicismo pode até ser útil — sim, há valor na prática de cultivar serenidade, presença e autocontrole. Mas isso não resolve desigualdade, burnout, crise existencial, colapso ambiental e nem as feridas psíquicas de viver num mundo sem sentido garantido.
Quando uma filosofia vira receita de bolo, ela deixa de ser filosofia e vira produto.
O estoicismo não é chave-mestra para os problemas modernos. E, usado fora de contexto, mais oprime do que liberta.
Pense nisso.